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Quando a expectativa não é tão boa assim

Não tem nada pior que criar expectativa em algo - um filme, uma receita, um livro, etc. - e quando você finalmente tem a experiência com isso, é ruim. Foi assim que me senti após ler dois livros que vi sendo bastante recomendados nos últimos tempos. É aquilo: não é porque é bem recomendado, que seja bom. E foi isso o que aconteceu.

O primeiro livro que me decepcionou foi Gente Ansiosa, do Fredrik Backman. Já tinha visto por cima alguns comentários e vídeos do YouTube sobre como esse livro era divertido, genial e surpreendente (insira aqui vários adjetivos requintados). Sinopse direto da Editora Rocco:

Às vezes é mais fácil conviver com a própria ansiedade se você sabe que mais ninguém está feliz também.

Assaltante fracassa num roubo a banco, às vésperas do Ano-Novo. Na fuga, invade um apartamento à venda que está sendo visitado por uma corretora e potenciais compradores. Os reféns não conhecem uns aos outros e, ali confinados em situação estressante, contam suas histórias de vida e percebem que têm muito em comum. Com habilidade e boas doses de humor, apesar da gravidade de certos temas abordados – suicídios na ponte, sonhos de amor não realizados, relacionamentos infelizes na meia-idade – Fredrik Backman tece um retrato de uma sociedade ansiosa e os perigos dessa tensão levar a finais trágicos, como, por exemplo, ao suicídio.

Engraçado e comovente, Gente ansiosa é permeado de reflexões filosóficas acerca das fragilidades e confusões humanas, lutas internas universais.

Não vou dizer que o livro não é ruim. Não é. Mas também não é bom. Eu não consigo descrever com nenhum adjetivo rebuscado. Simplesmente foi uma experiência confusa. A narrativa é um pouco bagunçada e o suposto humor que esse livro apresenta não me pegou. Algumas passagens do livro, especialmente sobre a questão da ansiedade e sobre o suicídio são bem interessantes, mas a experiência como um todo, não é tão emocionante quanto eu esperava e também como eu vi o livro sendo vendido pelas redes. Talvez seja um livro que funcione melhor em outro momento da minha vida. Talvez.

E o livro que peguei logo depois, esperando que fosse mil maravilhas, é Belo mundo, onde você está da Sally Rooney. E foi interessante… Sinopse da Companhia das Letras:

Alice conhece Felix pelo Tinder. Ela é romancista, ele trabalha num armazém nos subúrbios de uma pequena cidade costeira da Irlanda. No primeiro encontro, enquanto os dois tentam impressionar, a fagulha de algo mais aparece. Em Dublin, Eileen está tentando superar o término de seu último relacionamento enquanto precisa lidar com a falta da melhor amiga, que se mudou para o litoral. Ela acaba voltando a flertar com Simon, um homem mais velho que acompanha sua vida há tempos. Alice, Felix, Eileen e Simon ainda são jovens, mas sentem cada vez mais a pressão do passar dos anos. Eles se desejam, se iludem, se amam e se separam. Eles se preocupam com sexo, com amizade, com os rumos do planeta e com o próprio futuro. Seriam eles as últimas testemunhas do ocaso? Eles vão conseguir encontrar uma forma de viver mais uma vez em um belo mundo? Com uma prosa única e brutal, Sally Rooney constrói mais um romance inigualável sobre o que significa amadurecer sem deixar a si mesmo para trás.

Quando eu digo que foi uma leitura interessante é porque foi um bom exemplo de como a vida comum pode ser tediosa. Não que isso seja ruim. Já li outros livros que eram somente a vida normal acontecendo, mas que foram muito melhores que Belo mundo. A trama é um pouco cansativa, já que Alice e Eileen conversam basicamente por longos e-mails filosóficos e tediosos para o leitor. Os e-mails se misturam ao dia-a-dia dos personagens (que até são bacanas de ler), mas no geral, nada acontece. Nada. Não tem nenhum grande acontecimento no livro que mexa com a narrativa. Sabe aquela sensação que seria melhor ter gastado o dinheiro com outra coisa? Então…

Eu evito muito ler resenhas antes de ler algo. Vou me guiando apenas por algum post de lançamento, alguma rápida recomendação (no YouTube, principalmente) e a sinopse nas lojas. Ainda assim, dependendo da forma que a recomendação é feita, mesmo que seja com algum “ah, gostei muito desse livro, já tinha lido em inglês”, “vi outros criadores de conteúdo gringos falando bem”, eu crio uma expectativa que o livro é bom. Esses dois livros foram bem hypados pelas editoras e pelos influenciadores literários como boas apostas para essa reta final de 2021. Eu acabei confiando demais nessas recomendações. Errei nisso.

Após a leitura, fui atrás de saber o que outros leitores acharam dos livros. No Goodreads ou no Skoob, quem já estava adaptado ao estilo de cada autor e já tinha lido (e gostado) de obras anteriores, é praticamente unanime que também tenham gostado dos livros falados aqui. No meu caso, que era o primeiro contato com ambos, não foi uma experiência que tenha valido a pena (nenhum funcionou da maneira que eu esperava). Talvez outros livros do Fredrik Backman e da Sally Rooney funcionem, mas não quero repetir a expectativa de que eles sejam bons tão cedo. Pois talvez não sejam.

Texto originalmente publicado no write.as

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